Revista da Faculdade de Letras “Línguas e Literaturas”
Porto, XII, 1995, p.359-370
Literatura e Teologia: a melhor forma de recontar Babel
Maria João Pires
Para além de ser profundamente marcada por diferenças objectivas, metodológicas e de conteúdo, a actual relação entre os estudos literários e bíblicos tem como ponto definidor a complexidade da alteração cultural social e literária relativamente aos assuntos da fé. Ou seja, numa sociedade progressivamente massificada e dessacralizada, a procura de novas referências ou de um conjunto alternativo de valores liberais e humanistas vai-se progressivamente materializando sob a forma de novos símbolos que, na literatura por exemplo, se assumem com uma potencialidade escriturária.
Para além disso, o isolamento ao qual a literatura e a teologia — enquanto disciplinas — estiveram votadas entre os finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, tem a sua origem no elevado grau de especialização e fragmentação que atingiram, bem como no facto de sobre elas pesarem métodos interpretativos que são, na sua essência, distintos.
Assim, se por um lado crítica e teoria literárias se podem igualmente estender às obras literárias e à Bíblia, enquanto respectivamente tarefa interpretativa e sistematização dos princípios hermenêuticos que lhe estão subjacentes, por outro lado, no domínio restrito dos estudos bíblicos, o trabalho exegético assume uma larga amplitude significativa e simultaneamente um campo restrito de aplicabilidade. Contam-se aí a investigação de autor(es) dos textos, identificação de fontes e primeiras composições, a comparação de manuscritos de forma a detectar erros, acrescentos ou revisões, ou ainda o apuramento da influência das tradições orais e escritas na composição do texto bíblico. Logo, ao trabalho de ordenação sequencial dos textos se alia um outro definido basicamente pelo estudo da unidade estilística e temática do texto bíblico. >>> Leia mais, clique aqui.
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