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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 22 de março de 2013

O diálogo entre o Gênesis e a psicanálise



IHU (22/03/2013): O diálogo entre o Gênesis e a psicanálise: O segundo dia de palestras do professor e exegeta belga André Wenin reuniu dezenas de pessoas na sala Ignácio Ellacuría e companheiros do Instituto Humanitas Unisinos - IHU na noite da terça-feira, 19, para discutir o tema Leis para o ser humano. Genesis 1 – 4: exegese e psicanálise em diálogo. O evento integra a programação da 10ª Páscoa IHU – Ética, arte e transcendência e faz parte do curso Aprender a ser humano. Um estudo de Gênesis 1 – 4. André Wenin na abertura do evento ressaltou que sua fala dizia respeito a reflexões que estabeleceu com seu compatriota psicanalista Jean-Pierre Lebrun onde debatiam de que modo entre a psicanálise e a Bíblia há um fenômeno em eco, uma ressonância. A proposta de ambos era tentar ajudar as pessoas a compreenderem as conjunturas estruturais de onde vivem. “Eu e (Jean-Pierre) Lebrun, ele a partir da psicanálise e eu a partir da Bíblia, falávamos sobre temas como poder, dinheiro, violência. No fim do evento consideramos que houve um diálogo porque nosso objetivo era debater temas contemporâneos e não fazer as pessoas lerem as Bíblia”, explica Wenin. De acordo com o exegeta, o que houve durante o encontro com Lebrun foi um diálogo entre um psicanalista agnóstico e um teólogo e a proposta não era criar polêmica, mas sim alimentar as considerações de cada um sobre os temas abordados. >>> Leia mais, clique aqui.

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domingo, 4 de novembro de 2012

O patriarca e o filho das entranhas: análise das relações de parentesco e convivência no ciclo abraâmico



Anderson Gomes de Paiva
Dissertação de Mestrado em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica (USP)
Data da defesa: 17/09/2009.
Resumo: O objetivo de nossa pesquisa de mestrado é revelar as estruturas do sistema de sucessão patrilinear, segundo o qual o status de membro do grupo é outorgado pelo pai aos seus descendentes do sexo masculino, nas narrativas patriarcais da Torá, no livro de Gênesis. Pretendemos contemplar o lócus que este princípio ocupava no grupo patriarcal. Nossos estudos levantam a hipótese de que a patrilinearidade era decisiva nas relações de parentesco do Israel antigo, sendo esta, também, a viga mestra na qual se apoiava boa parte da estrutura do edifício social dos primeiros israelitas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Fragmentos de Cultura, Vol. 19, No 1 (2009) Forma e Lugar de Genesis 3 na História da Religião Hebraica

Fragmentos de Cultura, Vol. 19, No 1 (2009)

Forma e Lugar de Genesis 3 na História da Religião Hebraica

Haroldo Reimer

Resumo: O texto busca descrever a forma da narrativa de Gênesis 3, bem como atribuir um lugar mais provável para o surgimento deste texto na história da religião hebraica. Basicamente defende-se que o texto é uma narrativa mítica, cujo conteúdo imaginário estabelece um confronto entre o Deus dos hebreus e a serpente, elemento simbólico catalizador do mal representativo da diversidade religiosa distoante da oficial. Com isso o texto propõe um dualismo incipiente. O horizonte dos produtores do texto deve ser situado no período do chamado pós-exílio, portanto, no século V-IV a.C., na província de Judá. O texto constitui peça importante para a consolidação do monoteísmo oficial entre os antigos hebreus.

Texto Completo: PDF

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A "influência" do mito babilônico da criação, Enuma Elish, em Gênesis, 1,1 -2,4ª

A "influência" do mito babilônico da criação, Enuma Elish, em Gênesis, 1,1 -2,4ª

Antonio Ivemar da Silva Pontes

Dissertação de mestrado em Ciências da Religião (UNICAP)

Data da defesa: 2010.

Resumo: Dentre os vários campos de interesse das Ciências da Religião, o sagrado e seu impacto nas culturas dos diversos povos e épocas, tem sido objeto de estudo para muitos que enveredam nesse campo tão vasto. Através de pesquisa bibliográfica, o presente trabalho, à luz das Ciências da Religião, se presta a fazer uma análise hermenêutica comparativa sobre a relação entre o poema babilônico da criação, Enuma Elish, e o relato bíblico da criação em Gênesis 1,1—2,4a. Esse estudo, que tem como base a Teologia Comparada, busca fazer uma análise sobre a influência que uma cultura exerce quando interage com outra. Pretende sinalizar algumas semelhanças e diferenças entre esses dois textos de culturas e épocas diferentes. Procura ainda ajudar o leitor a perceber de que maneira o mito pode ser entendido e de que forma ele pode ser empregado no campo científico. Após a análise do levantamento de dados, percebemos que há alguns elementos em comum entre os dois poemas. Dentre eles destacamos: a criação do universo, do firmamento, dos astros e do homem. Percebemos, portanto, que de fato, quando um povo interage com outro de cultura diferente da sua, acaba havendo uma influência mútua de um povo em relação ao outro.


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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Os pergaminhos da Torá do Museu Nacional: crítica textual dos rolos referentes ao livro do Gênesis

Os pergaminhos da Torá do Museu Nacional: crítica textual dos rolos referentes ao livro do Gênesis

Carlos Alberto Ribeiro de Araújo

Tese de doutorado em Teologia (PUC-RJ).

Data da defesa: março de 2006.

Resumo: A pesquisa envolve a crítica textual do livro do Gênesis transcrito em IX rolos de pergaminhos pertencentes ao acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, conhecidos como Pergaminhos Ivriim. Seu texto encontra-se como fragmentos de livros e livros completos da Torá, compilado em Hebraico consonântico quadrático, tendo sido comprados por D. Pedro II, Regente do Segundo Reinado Brasileiro, em sua primeira viagem à Europa, entre 1871 a 1872. A análise envolve a elucidação, segundo os princípios formulados por eruditos do Antigo Testamento, das características massoréticas, divisões e erros de transcrição presentes nos rolos I, II e III referente ao texto do Gênesis. Além disso, algumas questões foram especialmente apontadas, tais como, o critério utilizado para validar as variantes textuais, as razões para apontar a possível família textual e o período de sua transcrição. As conclusões puderam ser obtidas a partir da confrontação textual entre o livro do Gênesis na Torá do Museu Nacional com as transcrições de diferentes períodos do texto Hebraico: massorético primitivo, medieval tardio e contemporâneo. Estes foram relacionados entre si sob três diferentes níveis: o primeiro abrangendo a colação das variantes textuais, o segundo envolvendo a análise, e o terceiro enfocando a possível família textual da Torá do Museu Nacional. >>>> Leia mais, clique aqui.

terça-feira, 12 de maio de 2009

A Cosmogonia de Inauguração do Templo de Jerusalém – o Sitz im Leben de Gn 1,1-3 como prólogo de Gn 1,1-2,4a.

RIBEIRO, Osvaldo Luiz. A Cosmogonia de Inauguração do Templo de Jerusalém – o Sitz im Leben de Gn 1,1-3 como prólogo de Gn 1,1-2,4a. Tese de Doutorado em Teologia. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2008.


A Tese encontra-se em PDF, arquivada por seção. Você deve baixar separadamente cada uma das seções que desejar ler:


quinta-feira, 26 de março de 2009

''A origem das espécies''. Gênesis 1 e a vocação científica do homem

IHU (25/03/2009): ''A origem das espécies''. Gênesis 1 e a vocação científica do homem: Reproduzimos na sequência um extrato do ensaio, publicado no número 3807 da revista La Civiltà Cattolica, com a data de 07 de fevereiro de 2009 (veja a notícia anterior). O autor do artigo é Jean-Pierre Sonnet, jesuíta, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma. Quando se fala das origens, para os cristãos de nosso tempo o desafio é o de viver uma dupla cidadania: uma fidelidade inteligente ao ensino de Gênesis 1 e uma abertura atenta às propostas da pesquisa científica. [...] Contudo, hoje eles devem afinar essa dupla lealdade, num tempo em que alguns se divertem jogando as noções da criação uma contra a outra, sob a forma de ideologias – criacionismo e evolucionismo – reciprocamente excludentes. Para os defensores do evolucionismo, voltar ao poema inicial do Gênesis significa uma regressão a uma forma de obscurantismo incompatível com a racionalidade da idade moderna. Neste ensaio buscaremos demonstrar que a referência aos primeiros capítulos do Gênesis não implica em absoluto uma renúncia da inteligência. [...] Uma racionalidade luminosa atravessa estes textos, capazes de falar a cada homem razoável, e em particular ao homem de ciência contemporâneo. [...] >>> Leia mais, clique aqui.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Gênesis capítulos 1 e 2, 1-4: um estudo de traduções e exegese

Gênesis capítulos 1 e 2, 1-4: um estudo de traduções e exegese
Daniela Dal Fabbro
Dissertação de Mestrado em Lingüística Aplicada (UNICAMP)
Orientador:
Prof. Dr. Eric Mitchell Sabinson
Data da defesa: 26/04/2002.
Resumo: O ponto de partida deste trabalho é a interpretação da história da criação do mundo. Com o objetivo de mostrar um pouco da exegese bíblica, são analisadas traduções, feitas a partir do hebraico, à luz de um dos maiores exegetas do judaísmo, Rashi. Entre os tradutores- Haroldo de Campos, André Chouraqui, Rabino Meir Matzliah Melamed e Aryeh Kaplan - incluo uma lingüista aplicada, Dal Fabbro, a autora desta pesquisa. A análise se pauta pelos níveis lingüísticos (sintático, morfológico, léxico-semântico) e por fatores pragmáticos e estilísticos. O arcabouço teórico inclui os trabalhos. de Umberto Eco (com a noção de "intenção de texto") , Travaglia (a tradução como ressignificação) e Patrick Dahlet (abordagem cognitivo-lingüístico à produção textual). Conclui-se que todas as traduções analisadas se centralizam no significado do texto, levando em conta a língua e a cultura hebraicas, ou seja, buscam a intenção do texto. As diferenças entre uma tradução e a outra se devem (1) ao nível lingüístico, priorizado por cada um dos tradutores, (2) ao ponto de vista de cada um, (3) à relação entre tradutor e leitor (pragmática) e/ou (4) a variações estilísticas.

Os olhos de Leia: polêmicas entre o sagrado e o profano na tradução da Bíblia

Os olhos de Leia: polêmicas entre o sagrado e o profano na tradução da Bíblia
Lucineia Marcelino Villela
Dissertação de Mestrado em Lingüística Aplicada (UNICAMP)
Orientador:
Prof. Dr. Paulo Roberto Ottori
Data da defesa: 16/02/1997.
Resumo: O objetivo principal deste estudo é refletir sobre a tradução da Bíblia no que se refere às teoria de tradução e às suas conseqüências para o texto bíblico. Começamos esta reflexão com a análise da tradução de Gênesis 29.17, que evidencia um verdadeiro jogo de disputas na tradução de Os olhos de Léia. As traduções diferentes e opostas da palavra hebraica rak nos mostrarão a impossibilidade de considerar uma tradução como correta ou sagrada excluindo outras traduções possíveis como erradas ou profanas. Eugene Nida aparece como o teórico de maior importância no campo da Tradução Bíblica e consideraremos alguns de seus trabalhos nos quais se encontram postulados e regras que tentam determinar e controlar a produção de sentidos na tarefa tradutória. Analisaremos também dois outros casos de discussões e críticas sobre traduções da Bíblia, com o objetivo de corroborar nossa hipótese de que o processo de tradução pode levantar a questão das dicotomias e oposição de significados a partir de uma mesma palavra ou termo na língua ou texto "original". A relevância desta dissertação está em considerar a diferença e a oposição na tradução da Bíblia como um assunto complexo e tratar dicotomias como Sagrado e Profano como possíveis e inevitáveis, dentro de um mesmo contexto como pudemos analisar nos Olhos de Leia.

domingo, 20 de abril de 2008

Bíblia abriga duas versões contraditórias da criação do mundo

Deus tem nomes diferentes e realiza ações em ordem inversa em textos do Gênesis.
Datação e contexto cultural explicam incongruências; política também impactou texto.

Reinaldo José Lopes
Do G1, em São Paulo, em 06/04/2008.

A maioria esmagadora dos leitores da Bíblia não percebe, mas os dois primeiros capítulos do livro sagrado de cristãos e judeus retratam não uma criação do mundo, mas duas. O ser humano surge de duas maneiras diferentes, uma logo depois da outra, e até o deus responsável pela criação não tem o mesmo nome nos dois relatos.

Essa natureza contraditória e fascinante do Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, está sendo revelada por uma série de estudos históricos e lingüísticos do texto sagrado. A arqueologia, por sua vez, mostra a relação dessas histórias com as de outros povos do Oriente Médio -- às vezes tão parecidas com o Gênesis que ajudam a recriar a "pré-história" das Escrituras.

"A hipótese básica é que os textos bíblicos foram reunidos de várias fontes diferentes, de períodos diferentes, ao longo de nove séculos", explica Suzana Chwarts, professora de estudos da Bíblia hebraica na USP. "Essa é a chamada hipótese documentária, discutida aos gritos em qualquer congresso internacional desde o século 19 até hoje", brinca Chwarts, referindo-se às polêmicas que rondam a idéia.

Controvérsias à parte, a hipótese documentária costuma ver dois textos-base principais para as narrativas da criação, conhecidos pelas letrinhas P (primeiro relato) e J (o segundo). As diferenças entre a dupla são numerosas, como se pode conferir no infográfico abaixo.

De P a J
O relato de P é o único a detalhar a criação de todos os corpos celestes e seres vivos em seis dias. Nele, o homem e a mulher são criados ao mesmo tempo, e a divindade usa apenas palavras para fazer isso. Já o relato de J inverte a ordem de alguns elementos e, na verdade, enfoca apenas a criação dos seres humanos (trata-se da famosa história do homem feito de barro e da mulher modelada a partir de sua costela).

De quebra, os personagens que comandam a ação parecem não ser os mesmos. O primeiro recebe o nome hebraico Elohim (originalmente uma forma do plural, como "deuses", mas usada para designar uma única divindade), normalmente traduzido simplesmente como "Deus". O segundo é apresentado como Yahweh Elohim (dependendo da versão da Bíblia, chamado de "Senhor Deus" ou "Javé Deus" em português). Os indícios nesse e em outros textos bíblicos sugerem que os dois nomes refletem a influência de antigos deuses pagãos sobre a concepção de Deus dos antigos israelitas, autores e editores da obra.

As idéias sobre a origem dos relatos são variadas. Recolhendo pistas no texto hebraico completo da Bíblia, há quem aposte que J é o material mais antigo da dupla, tendo sido composto por volta do ano 700 a.C. Por outro lado, fala-se numa data mais recente para P, talvez a fase que se seguiu ao exílio dos habitantes do reino de Judá (a parte sul do antigo Israel) na Babilônia -- ou seja, pouco antes do ano 500 a.C.

Chwarts, no entanto, diz que a principal diferença entre a dupla talvez não seja a data, mas a visão de mundo. P teria sido escrito pela casta sacerdotal israelita, a julgar pelo seu ritmo altamente ritualizado e organizado. "Ele é arquitetonicamente estruturado e ordenado, hierárquico. É totalmente antimitológico: tudo é criado pela palavra, inclusive os astros celestes, que são divindades em todas as outras culturas do Oriente Médio antigo, viram meras criações de Deus", afirma ela. Já o segundo relato "não traz uma reflexão filosófica, mas reflete a visão popular de um camponês na terra de Israel. Esse é um deus mais paternal: quando cria o homem, o verbo usado é yatsar, ou seja, modelar a partir de uma substância", explica.

Polêmica
O curioso é que elementos que lembram tanto a primeira quanto a segunda história da criação aparecem em textos desencavados por arqueólogos no Oriente Médio. "A imagem de deuses fazendo uma série de pequenos humanos com argila, como se fossem oleiros, também é muito comum", lembra Christine Hayes, professora de estudos judaicos da Universidade Yale (EUA). O mais famoso desses textos mitológicos é o "Enuma Elish", achado no atual Iraque e escrito em acadiano, uma língua aparentada ao hebraico. Tal como o primeiro capítulo do Gênesis, o "Enuma Elish" também descreve um mundo primordial coberto pelas águas, que é organizado por um deus -- no caso, Marduk, que estabelece o firmamento celeste, a terra firme e os astros.

Como explicar as semelhanças? Para Osvaldo Luiz Ribeiro, doutorando da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ) cuja tese versará justamente sobre a primeira narrativa da criação, não é preciso pensar numa influência direta do "Enuma Elish" (que pode ter sido escrito por volta de 2.000 a.C.) sobre a Bíblia. "Esses relatos dependem mais da plataforma cultural comum do mundo semita [grupo que incluía tanto israelitas quanto os falantes do acadiano]" -- ou seja, teriam apenas uma origem remota comum.

Já Christine Hayes vê as semelhanças, na verdade, como uma crítica polêmica dos israelitas aos seus vizinhos pagãos. Ao adorar um deus único e soberano sobre a natureza, eles teriam usado elementos parecidos para contar uma história totalmente diferente. O deus Marduk, por exemplo, precisou lutar contra uma feroz deusa aquática, chamada Tiamat -- uma espécie de representante das águas primordiais --, para criar o mundo. Já o Deus da primeira narrativa da criação simplesmente manda as águas se mexerem -- e elas se mexem sem resistência, argumenta Hayes.

"O ouvinte antigo imediatamente ia ficar de orelhas em pé. Ia ficar pensando: cadê a batalha? Cadê o sangue? Achei que conhecia essa história", diz a pesquisadora. Chwarts e Hayes também lembram o forte tom de otimismo das histórias da criação bíblica, em especial na primeira narrativa (a segunda é mais comedida nesse aspecto). Ao contrário das histórias similares entre outros povos antigos, os autores e editores bíblicos estariam rejeitando a idéia de que o mal faria parte da estrutura do mundo desde o começo. Não é à toa que, depois de cada obra, afirma-se que Deus viu que aquilo "era bom" ou "era muito bom". "Você sente aquele tremendo influxo de otimismo: o mundo é bom! Os seres humanos são importantes, têm propósito e dignidade", diz Hayes.

Terroso
A análise moderna do texto hebraico revela outras surpresas em relação a Adão, o suposto ancestral isolado de todos os seres humanos. "Para começar, Adão não é um nome próprio", diz Hayes. A primeira narrativa diz que Deus criou o 'adam -- com artigo definido, como se fosse uma categoria de seres, e não um indivíduo. "Já se traduziu 'adam como o terroso [ou seja, o feito de terra]", conta Osvaldo Ribeiro. De quebra, nesse relato diz-se explicitamente que o 'adam, homem e mulher juntos, são criados ao mesmo tempo e ambos seriam "imagem e semelhança" de Deus.

"É que, no mundo antigo, não se concebe um deus sozinho. Todo deus tem sua fêmea -- não dá para imaginar um deus celibatário", explica Rafael Rodrigues da Silva, professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP.

Política pós-exílio
Silva diz que a relação entre 'adam e 'adamah, ou "terra" em hebraico, tem a ver com a idéia de terra enquanto lavoura, terreno para plantar. Nesse caso, as narrativas do Gênesis estariam de olho na necessidade de voltar a cultivar a terra da Palestina depois que o povo de Judá voltou do exílio na Babilônia.

Ribeiro, da PUC-RJ, aposta justamente nessa interpretação social e política para explicar a primeira narrativa da criação. "Essas narrativas tinham uma função específica no antigo mundo semítico, e essa função aparentemente não tinha a ver com a nossa visão delas como relatos da origem de tudo o que existe", afirma. O "Enuma Elish", por exemplo, era recitado na construção de templos e cidades -- como uma parte ritual da ação criadora que estava sendo executada.

Ora, ao voltar do exílio, os ancestrais dos judeus, capitaneados pelos sacerdotes, viram-se diante da tarefa de reconstruir o Templo de Jerusalém -- e o relato da criação seria justamente uma versão ritual desse processo. Ribeiro afirma que há um paralelo claro entre a situação de caos e de desolação antes da ação divina e a terra de Israel devastada pela guerra. "Por exemplo, quando uma cidade é destruída na Bíblia, há a invasão das águas", diz. Isso explicaria também porque, estranhamente para nós, Deus não cria as coisas do nada, mas reorganiza elementos que já estão presentes -- como alguém que traz de novo a lei e a ordem para uma região.

"Eu sinceramente nem sei se os povos semitas antigos tinham essa noção da criação do Universo inteiro a partir do princípio. Para eles, a criação significava provavelmente a criação de sua própria cultura, de sua própria civilização. O que ficava fora dos muros da cidade ou dos campos cultivados perto dela era considerado o caos", afirma Ribeiro.

Contradições preservadas
Diante da história complicada e tortuosa do texto, a pergunta é inevitável: por que os editores antigos resolveram preservar as contradições, em vez de apagá-las?

"Porque ambas eram respeitadas em seus círculos, ambas eram fontes com autoridade, e os redatores bíblicos utilizaram o sistema de edição 'cortar/colar', e nunca 'deletar'. Para o pensamento semita antigo, não há contradição alguma em dois relatos diferentes estarem no mesmo livro. Aliás, a idéia é que a palavra de Deus é múltipla e e se expressa de múltiplas formas, assim como sua verdade", arremata Suzana Chwarts.