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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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terça-feira, 7 de julho de 2015

17 de Tamuz e as Três semanas 5775 / 2015

 17 de Tamuz e as Três semanas
De 05/07 a 26/07/2015

O dia 17 (Shivá Esrei) de Tamuz (em 5775 corresponde a 05/07/2015, domingo) marca o início da destruição de Jerusalém (quebra dos muros da cidade), que culminou com a destruição do Templo em 9 de AV (Tishá BeAv), correspondendo, em 5775, à noite de 25/07/2015, sábado, e 26/07/2015, domingo.

17 de Tamuz é um dia de jejum, devotado a prantear os trágicos eventos que ocorreram nesta data, ao arrependimento e a retificar suas causas. Abstemo-nos de toda comida e bebida desde o “romper do dia” (cerca de uma hora antes do nascer do sol, dependendo da localização) até o anoitecer. Preces especiais e leituras da Torá são acrescentadas aos serviços do dia. 17 de Tamuz também assinala o início das Três Semanas, período de luto que culmina com 9 de Av, marcando a conquista de Jerusalém, e destruição do Templo Sagrado e a dispersão do povo judeu. Casamentos e outros eventos alegres não são realizados durante este período, e diversas atividades agradáveis são limitadas ou proibidas (consulte o Shulchan Aruch ou um rabino sobre as proibições específicas).


Leitura: Em Tishá BeAv (Memorial pela destruição do Templo e de Jerusalém) é realizada a leitura da Meguilat Eichá (Livro de Lamentações).


SASSI, Katia Rejane. Pentateuco feminino: cinco livros proclamados nas festas judaicas. São Leopoldo: CEBI, 2012. p.11-12; 20-21.

O rolo de Lamentações
O rolo das Lamentações, como uma coleção de cinco poemas, retratam o drama vivido pela comunidade judaica por ocasião dos acontecimentos de 587 [a.C.], a ruína de Jerusalém. Nesta estrutura litúrgi­ca, diversas vozes, individuais ou coletivas, falam dos danos causa­dos pela guerra, da desolação de Sião, das angústias da deportação e da confusão do povo (MONLOUBOU[1], p. 203).
Diferentemente dos demais megillot, que apresentam o prota­gonismo e a iniciativa das mulheres, o rolo de Lamentações parece destoar um pouco. No entanto, nos faz repensar esta ideia, fazendo referências ao costume das mulheres de entoar cânticos de triunfo e cânticos de lamento (2Sm 1,20.24; Jr 9,16b-17.19; Ez 32,16). Dentro da tradição oral, pode-se supor que o "entoar cânticos de lamentações era uma tarefa designada às mulheres e desempenhada por ocasião de eventos religiosos e políticos quando o povo de Israel se reunia".
A Bíblia descreve o papel importante que as mulheres desem­penham nas duas extremidades da vida: no nascimento e na morte. Lembramos das parteiras (Ex 1,15) e das carpideiras (Jr 9,16-21). Uma arte que era transmitida de mãe para filha.
Em Lamentações, encontramos metáforas da mulher: "A pri­meira entre as nações está como viúva" (Lm 1,1), "a cidade de Sião perdeu toda a sua beleza" (Lm 1,6) e outras passagens bíblicas. Por trás das imagens da mulher como representante de Judá, do Monte Sião, de Jerusalém, transparece a condição delas na sociedade patriarcal. A realidade da mulher viúva, sem direito à propriedade, piorava ainda mais a situação.

Memorial da destruição de Jerusalém
Bem cedo as lamentações foram associadas às manifestações litúrgicas de luto e penitência instituídas por Israel para comemorar o incêndio e a destruição de Jerusalém, no quinto mês do calendário is­raelita (2Rs 25,8), por Nabucodonosor e suas tropas. Há provas de que a lamentação no local do templo destruído começou pouco depois da destruição da cidade (Jr 41,5-6) e que dias de jejum anuais, come­morando a queda da cidade eram observados durante todo exílio e pelo menos até a reconstrução do templo (Zc 7,1-7; 8,19).
A liturgia sinagogal as retoma sempre no nono dia do mês de Ab [Av] (julho-agosto), acrescentando a comemoração do incêndio do templo pelos romanos em 70 d.C. Em Jerusalém, elas são comemoradas à noite, durante uma longa vigília de oração diante do muro, úni­co vestígio do segundo templo (MONLOUBOU, p. 210-211).
O dia do Memorial da Destruição de Jerusalém é um dia de luto marcado por um jejum rigoroso. Neste dia, não se estuda a Tora, mas é dada mais importância à leitura do rolo das Lamentações. Ao fazer memória da destruição do templo, o povo lembra a ausência e o aban­dono de Deus. O povo reconhece seu pecado e percebe que essas ca­lamidades se devem à sua infidelidade (Mq 3,12). Este é o sentido desta festa. Relembrar esta ausência, em oração, é reconhecer, ao mesmo tempo, que Deus é presença. O sofrimento e o luto são passagem obrigatória para um dia ter acesso à alegria da presença.



[1] MONLOUBOU, L. Os Salmos e outros escritos. São Paulo: Paulus, 1996.

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