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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 21 de setembro de 2008

Exegese Bíblica na Tradição Judaica

Exegese Bíblica na Tradição Judaica

Profa Dra Cláudia Andréa Prata Ferreira
FL/UFRJ e PPGHC-IFCS/UFRJ
Versão em 21/09/2008


Texto Hebraico Bíblico
Na Tradição Judaica:
a Bíblia Hebraica (Antigo Testamento/Primeiro Testamento) é conhecida pelo termo Tanach, composto pela Torá (Pentateuco), Neviim (Profetas) e Ketuvim (Escritos).

O conjunto do Tanach tornou-se a parte central da Tradição Escrita, Torá Shebik’tav.

► A leitura da Torá (Pentateuco) é realizada normalmente nas segundas, quintas e sábados. Este costume é uma forma de liturgia que data desde os tempos do retorno dos judeus do exílio babilônico no século VI a.E.C. A leitura também é parte do sistema integrado na liturgia de oração e estudo.

► A Torá é dividida em cinqüenta e quatro partes chamadas de Parashá ("sessão"), no plural Parashiot. Deste modo, a cada semana é lida uma Parashá e ao final de um ano, a leitura é concluída e reiniciada ano a após ano sucessivamente. A leitura da Parashá se inicia sábado à tarde, tem sua continuação às segundas e quintas e continuação, seguida de conclusão, sábado de manhã.

► O sentido literal de Haftará é "conclusão" e refere-se à leitura de trechos selecionados dos livros dos Profetas. Encontramos duas explicações para a leitura da Haftará: primeiramente, a leitura se deve à intenção de preservar este material na memória do povo. A outra explicação associa o uso da leitura da Haftará com o período de proibição do estudo da Torá por Antíoco IV, no século II a.E.C. Neste contexto, a Haftará seria uma substituta à leitura em que os trechos escolhidos teriam um conteúdo correspondente ao da leitura prescrita (Torá). Com o fim da proibição, manteve-se o costume da leitura da Haftará. A Haftará é relacionada ao tema da leitura da Torá, permitindo uma compreensão mais profunda da leitura desta e dos dias festivos.

Orientação Oral – 1
A Orientação Oral era em grande escala derivada do Tanach (Bíblia Hebraica) e qualquer preceito particular podia, em princípio, ser ensinado através de qualquer um dos métodos: como interpretação do texto-documento (Tanach) ou como uma tradição independente.

Orientação Oral – 2
A interpretação das Escrituras tornou-se conhecida como Midrash “interpretação”, termo derivado de um verbo hebraico que significa “buscar, investigar, procurar saber”.

Midrashim
Os Midrashim tiveram sua origem nas palestras e homilias populares realizadas na sinagoga, no Beit HaMidrash ou na Academia Talmúdica.

Literatura Rabínica - 1
A literatura rabínica pode ser classificada basicamente de:
1) de acordo com o gênero:
método Midrash e método Mishná
2) de acordo com o objeto do texto: Halachá ou Hagadá

Literatura Rabínica – 2
A literatura rabínica pode ser classificada segundo a origem cronológica:

► período dos tanaim (70-200 E.C.) e seus predecessores
Local:
Terra de Israel
Idioma: hebraico
e o
► período dos amoraim (200-500 E.C.)
Local:
pode ser da Terra de Israel ou Babilônia
Idioma: aramaico.


Ilustração: Modelo de uma página talmúdica.

Bíblia que gera a Bíblia - 1
A atividade rabínica de interpretar o texto bíblico e criar uma hermenêutica elaborada tem como fonte de inspiração a própria fonte bíblica.

O sentido de Midrash como um processo de “interpretação e exposição” já estaria presente na própria Bíblia (Hebraica) numa espécie de processo de Bíblia que gera Bíblia (TREBOLLE BARRERA, 1995:513-520).

Bíblia que gera a Bíblia – 2
A Bíblia é ela própria um texto interpretado: os profetas interpretam a Torá (Pentateuco) + fonte de toda uma tradição de interpretação (a fonte talmúdica).

De acordo com essa perspectiva, a Bíblia é o substrato de um longo processo exegético no qual os livros do corpus bíblico interpretam-se uns aos outros e que a Bíblia é a primeira intérprete de si mesma.

Bíblia que gera a Bíblia – 3
Destacamos o papel dos profetas na atualização e interpretação das tradições de Israel.

Podemos observar como o profeta Jeremias usa a legislação do divórcio para contrastar a relação entre Deus e o povo (Ver Jeremias 3,1 releitura de Deuteronômio 24,1-4).

Bíblia que gera a Bíblia – 4
Em outros casos, encontramos narrativas inteiras que reelaboram e adaptam narrativas anteriores.

Em Ezequiel 16, podemos encontrar a reutilização midráshica de antigos materiais da história de Israel (v. Ezequiel 16,17-19 releitura de Êxodo 32,2-4).

Bíblia que gera a Bíblia – 5
Em outros casos, encontramos narrativas inteiras que reelaboram e adaptam narrativas anteriores.

O livro de Crônicas é uma reescrita dos livros de Samuel e dos Reis, com pontos de vista diferentes.

Hermenêutica Rabínica – 1
A hermenêutica rabínica que fundamentalmente é o comentário da Bíblia e posteriormente, o comentário do comentário, dessa forma, dá continuidade a esse processo interpretativo que já estaria presente na Bíblia.

Hermenêutica Rabínica – 2
A interpretação na tradição judaica é caracteristicamente um intenso processo de procura do sentido da palavra divina e uma forma de perpetuar a memória dessa relação entre Deus e Israel através dos tempos.

A sinagoga como Biblioteca Pública
Na Idade Média, a sinagoga além de local de oração, desempenhava as funções de centro social e, entre outras coisas, de biblioteca pública. A leitura é um dever religioso de estudo individual ou em grupo.

Na virada do século XI - Rabino Guershom

“os livros não são feitos para serem armazenados, mas sim emprestados. (...) com esta condição concedi-te o empréstimo sobre penhor daqueles livros - com a condição de poder estudar e ensinar com eles e também empresta-los a outras pessoas”.

No século XIII - Rabino Meir de Rottenburg
“é comum um homem emprestar os próprios livros aos estudiosos”.

A leitura como ritual religioso
A institucionalização da leitura pública da Torá assumiu a função de preservação, transmissão e interpretação das fontes judaicas.

Tradução

A Tradução enquanto permanecia como ato de interpretação e explicação, continuou a ser incentivada pelos rabinos, pois era considerada um dos modos de comunicar e transmitir a palavra divina, embora as versões traduzidas fossem consideradas de importância secundária em relação ao original (hebraico). Uma maneira de interpretar as Escrituras consiste em sua tradução para outra língua, mais familiar ao ouvinte ou leitor. Nas antigas sinagogas de Israel, para evitar o perigo de deturpações e equívocos de tradução, tornou-se comum empregar um intérprete competente, conhecido como meturgeman, que traduzia oralmente as leituras das Escrituras, um (no caso da Torá), ou três (no caso dos Neviim) versos de cada vez, para o aramaico vernacular.

5 comentários:

Furlaneto-Cerquilho disse...

Olá ,Drª Andreia,tudo bem?Maravilha de blog!Foi muito útil nas minhas pesquisas sobre Exegese na Tradução Judaica.Obrigada!

Daniel C. Moreira disse...

Olá Dra, esclarecedor. Mas ainda tenho dúvidas sobre os métodos exegéticos utilizados pelos judeus (ortodoxos e messiânicos). Existe algum material que me auxilie nisso?

fateimpitz123.blogspot.com.br disse...

PARABENS DOUTORA MUITO EXCLARECEDO

Anísio Lima disse...

Parabéns, Professora muito bom trabalho em sentido técnico, mas gostaria de saber mais sobre os sentidos hermenêuticos e suas inclusões na tradução rabinira, obrigado.

Samuel disse...

Ótimo. Parabéns