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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Uma inscrição situa antes de Jesus a tradição da ressurreição do Messias

Juan Miguel Muñoz
Em Jerusalém - El País, em 11/07/2008.

Toda descoberta arqueológica vinculada ao período de Cristo provoca debates incendiados que muitas vezes se eternizam. A última revelação não decepcionará os polemistas, pois afeta as raízes do cristianismo, ao sugerir que a ressurreição do Messias no terceiro dia após sua morte é uma tradição anterior à figura histórica de Jesus.

Acaba de acontecer no Museu de Israel. Um pesquisador da Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel Knohl, apresentou na terça-feira um estudo sobre uma lousa de 90 cm de pedra calcária, datada do século 1º antes de Cristo e descoberta há 15 anos, que contém 87 linhas escritas com tinta. Nelas, segundo o arqueólogo, se descreve o anjo Gabriel ressuscitando um líder messiânico três dias depois de sua morte. Se realmente for isso o que está escrito na pedra, o conceito da ressurreição próprio do cristianismo teria sua origem na tradição judaica anterior.

A peça foi vendida há uma década por um negociante jordaniano a um colecionador suíço-israelense, que a mostrou a vários especialistas. Acredita-se que foi encontrada na margem jordaniana do mar Morto, no lado oposto a onde se situam as cavernas de Qumran, cenário de outra descoberta, os pergaminhos do mar Morto, sobre os quais se discute sem descanso desde 1948. A deterioração da lousa também propiciou várias interpretações porque muitos vocábulos estão quase ilegíveis. É um exemplo pouco freqüente daquele período. As palavras eram habitualmente esculpidas na pedra. Não se escrevia com tinta sobre ela.

A controvérsia parece própria de um país cheio de escavações arqueológicas, em busca das mais profundas raízes judias e no qual se fala o indizível da religião. Discussões acadêmicas à parte, assuntos deste porte - incluindo conceitos como a ressurreição, capital para o cristianismo - tocam as fibras mais delicadas nas sedes das igrejas cristãs, cujas relações com o judaísmo nunca foram simples.

"Minha teoria", explicou Knohl, "não representa nenhuma ameaça para os princípios fundamentais do cristianismo e não é meu objetivo polemizar com nenhuma religião." Os professores presentes no Museu de Israel explicaram que o conceito de ressurreição não é estranho ao judaísmo. O surpreendente, na opinião deles, é a referência aos três dias. "Em três dias viverás. Eu, Gabriel, te ordeno", pode-se ler, segundo Knohl.

"Essa teoria oferece novas idéias sobre o personagem histórico de Jesus, não como redentor da humanidade, como concebe o cristianismo, mas como um Messias cujo objetivo era redimir o povo a que pertencia, o judeu", declarou Knohl, que afirma ter traduzido uma das palavras que outros pesquisadores tinham sido incapazes de decifrar. Vários especialistas acrescentam que a figura de Jesus seria melhor compreendida depois de estudar a agitada história política dos judeus naquela época.

Muitos especialistas advertem que o debate acaba de começar e que a interpretação de Knohl é um tanto aventurosa. Um ano atrás foram publicados extensos relatórios que situam a origem da pedra antes do nascimento de Cristo. Agora se anuncia uma avalanche de ensaios. Parece que a polêmica não vai amainar.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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