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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Texto em pedra fala de ressurreição do Messias décadas antes de Jesus

Arqueólogos estudam obra apocalíptica atribuída ao anjo Gabriel, do século I a.C. Se interpretação for correta, esperança sobre Salvador ressuscitado era judaica.

G1, Ciência e Saúde/Arqueologia, em 07/07/2008.

Uma misteriosa placa de pedra que parece datar do século I antes de Cristo pode vir a mudar a percepção sobre as origens do cristianismo e revelar que os judeus, antes mesmo de Jesus Cristo, já acreditavam na chegada de um Messias que morreria e ressuscitaria após três dias.

Isso é o que afirma o pesquisador Israel Knohl, assegurando que sua análise de um texto hebraico escrito nesse pedaço de rocha "poderá mudar a visão que temos do personagem histórico Jesus". "Esse texto pode constituir o elo perdido entre o judaísmo e o cristianismo, à medida que insere na tradição judaica a crença cristã na ressurreição de um messias", afirma o professor de estudos bíblicos da Universidade Hebraica de Jerusalém.

A peça se encontra em mãos de um colecionador, David Jeselsohn, que vive em Zurique, na Suíça, e que declarou tê-la comprado em Londres, de um antiquário jordaniano. A peça procederia da margem leste do Mar Morto, na Jordânia.

Arcanjo Gabriel
O texto em hebraico, de natureza apocalíptica, apresenta a "revelação de que o arcanjo Gabriel vai despertar o Príncipe dos Príncipes três dias depois de sua morte". O texto está escrito, com tinta sobre a pedra, em 87 linhas, e algumas letras ou palavras inteiras foram apagadas pelo tempo. A análise de Knohl consiste essencialmente em decodificar a linha 80, onde figuram os termos "três dias mais tarde" seguidos por uma palavra meio apagada que, segundo o professor, significa "vive".

A paleógrafa (especialista em escritas antigas) Ada Yardeni é mais prudente no que se refere à palavra "vive". "A leitura do professor é plausível, apesar de a ortografia utilizada ser raríssima", afirma Yardeni, que publicou a primeira descrição da placa em 2007, na revista de história e arqueologia israelense "Cathedra". Outros pesquisadores também preferem não tirar conclusões tão radicais do texto descoberto e, inclusive, alguns duvidam de sua autenticidade.

Por sua parte, o arqueólogo israelense Yuval Goren, especialista em descoberta de falsificações, afirma não ter "detectado nenhum indício de falsificação no texto da pedra". "No entanto, minha análise não se aplicou à tinta", enfatiza o diretor do departamento de arqueologia e culturas antigas da Universidade de Tel Aviv. Uma arqueóloga que pediu para não ser identificada expressou suas dúvidas sobre a autenticidade da peça.

"Estranho"
"É muito estranho que um texto tenha sido escrito com tinta em uma placa de pedra e tenha ficado conservado até nossos dias. Para ter certeza de que não se trata de uma falsificação, seria preciso saber em que circunstâncias e onde exatamente a pedra foi descoberta, o que não é o caso", acrescentou.

O professor Knohl deve apresentar nesta terça-feira (8) sua interpretação em um encontro em Jerusalém por ocasião do 60º aniversário da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto. "Se essa descrição messiânica está realmente lá, isso vai contribuir para desenvolver uma reavaliação da visão popular e da visão acadêmica de Jesus Cristo", comentou o jornal "New York Times". "Isso sugere que a história de Sua morte e ressurreição não era inédita, mas parte de uma reconhecida tradição judaica da época".

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