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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Perspectivas ambientais no Judaísmo e no Cristianismo

PERSPECTIVAS AMBIENTAIS: LEONARDO BOFF E DAVID EHRENFELD


Ana Paula Perrota Franco


INTRODUÇÃO

Este ensaio tem por objetivo contribuir para uma pesquisa maior, desenvolvida pelos integrantes do Núcleo de Estudos Rurais – NUER, que busca caracterizar os atores sociais que compõem o campo ambiental na Amazônia brasileira a partir de investigações das possíveis orientações teóricas, bem como da formação e das trajetórias sócio-políticas e profissionais desses atores, e também a partir do acompanhamento em campo dos processos de implementação dos projetos ambientais, para mais tarde serem analisados comparativamente.

As equipes religiosas da Igreja Católica vêm desde os anos 60 e 70, atuando junto às populações ribeirinhas do estado do Amazonas, através das Comunidades Eclesiais de Base – CEB e, recentemente, através da CPT (Comissão Pastoral da Terra), um organismo pastoral autônomo fundado em 1975 e reconhecido pela CNBB.

Percebendo a escassez dos peixes nos lagos próximos à moradia dos ribeirinhos, essas equipes foram responsáveis pela organização desses moradores em comunidades e deram apoio à coordenação dessas populações no combate à insuficiência dos peixes nos lagos que tornava o problema da fome iminente. Assim, logo no início dos anos 80 quando a CPT já tinha sido fundada, as equipes religiosas em torno da Pastoral começaram a realizar reuniões freqüentes a fim de estabelecer a preservação desses lagos, pois o pescado além de fonte de renda dos ribeirinhos representa também, ao lado da farinha, a principal fonte de alimentação desses moradores. As equipes religiosas vislumbravam, assim, a possibilidade de uma situação de fome nas comunidades e, de diversas formas, apoiaram, desde o início, essas iniciativas . (Esterci, 2005).

De acordo com Aquino (2003), as fontes de orientação dessas equipes religiosas foram inspiradas pela Teologia da Libertação, uma vez que as CEBs e a própria CPT foram construídas por uma parcela da Igreja Católica chamada "progressista" por ter sua ação voltada aos "pobres e oprimidos". Recorro, portanto, à leitura de um dos principais teóricos da Teologia da Libertação, Leonardo Boff, que visualizou a mesma ótica para a exploração dos trabalhadores e para a depredação da natureza na chamada crise do paradigma civilizacional (Boff, 2004: 23). A leitura desse autor, que já publicou mais de setenta livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Ecologia, tem se mostrado fundamental para o entendimento de como as equipes religiosas pensam e trabalham a questão ambiental ao lado das populações ribeirinhas.

A análise da formulação teórica de Boff acerca da relação entre homem e natureza talvez nos permita vislumbrar algumas das idéias que orientam as equipes da Igreja Católica que incorporaram a questão ambiental. Além deste autor, será utilizado neste ensaio as idéias desenvolvidas no livro A Arrogância do Humanismo, de 1978, do biólogo David Ehrenfeld, autor de pelo menos sete livros que discutem a problemática ambiental. Esta obra, utilizada por diversos teóricos que se dedicam ao estudo da relação homem–natureza, critica o caminho que a humanidade tem percorrido ao longo da sociedade moderna rumo a uma crença ilimitada no poder da tecnologia e da razão para controlar o mundo natural.

Inicialmente, a finalidade deste estudo era pensar a teoria produzida por Boff a partir do humanismo enfaticamente criticado por Ehrenfeld. No entanto, conforme a leitura dos dois teóricos foi se aprofundando, tornou-se possível estabelecer paralelos entre o pensamento de ambos, já que desenvolvem em seus trabalhos temas em comum e com abordagens próximas . Um exemplo é a recorrência ao tema da arrogância do ser humano, que se entende em posição privilegiada em relação aos demais seres do universo. A forma como este assunto e outros que veremos a seguir são tratados nos permite fazer aproximações entre os pensamentos de Boff e Ehrenfeld.

A proposta é eleger determinados pontos temáticos abordados pelos dois autores (tais como: Religião Judaico-Cristã; Desenvolvimento científico-tecnológico; Homem versus Natureza; Crise do paradigma civilizacional e Perspectivas Futuras) e construir, a partir da comparação do pensamento de ambos, uma síntese comparativa. O objetivo central é trazer informações sobre o pensamento de Boff, um dos principais teóricos da Teologia da Libertação e que, possivelmente, influencia as equipes religiosas, para aprofundarmos o conhecimento de como a Igreja Católica desenvolve e pensa a questão ambiental no seu trabalho realizado no estado do Amazonas junto às populações ribeirinhas. Pretende-se, ainda, investigar de que modo o pensamento de Boff pode ser analisado conforme as questões propostas por Ehrenfeld em seu livro , pois uma das hipóteses acerca do projeto ambiental realizado pela Igreja em aliança com os ribeirinhos seria de que a Igreja possui uma perspectiva humanista em relação ao mundo ambiental.

É interessante notar, antes de estabelecer as comparações, que os conceitos : humanismo e antropocentrismo são utilizados, respectivamente, por Ehrenfeld e Boff. Entretanto, ainda que Boff não mencione Ehrenfeld e nem este cite Boff, o sentido que ambos dão a esses conceitos não possui diferenciação. Ao se utilizarem destes termos, ambos estão se referindo à mesma mentalidade de domínio e de controle da natureza por parte dos seres humanos. Além disso, o adjetivo "arrogante" é utilizado por esses autores para enfatizar a idéia que a humanidade atualmente faz de si mesma e de sua posição dominante no universo.


Veja mais em:
Paula Perrota. Perspectivas ambientais: Leonardo Boff e David Ehrenfeld. Revista Habitus: revista eletrônica dos alunos de graduação em Ciências Sociais - IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, n. 4, p.4-15, 16 abr. 2007. Anual.


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