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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

São Paulo: a fundação do universalismo

São Paulo: a fundação do universalismo

Alain Badiou

Editora: Boitempo


A partir do discurso do apóstolo Paulo, tido como o fundador do cristianismo, o filósofo Alain Badiou formula uma investigação sobre os fundamentos do universalismo. Para o intelectual francês, Paulo inaugura um novo discurso, distinto da filosofia grega e da lei dos judeus, fundado na experiência e portador de uma nova perspectiva, a universalidade.


Ao longo desse ensaio, Badiou aborda a conexão paradoxal feita por Paulo entre um sujeito sem identidade e uma lei sem suporte, que funda a possibilidade de uma predicação universal na história. Nas palavras do filósofo francês: “Se, hoje, quero retraçar em poucas páginas a singularidade dessa conexão é porque trabalho por todos os ângulos, até com a negação de sua possibilidade, a busca de uma nova figura militante, demandada para suceder àquela cujo lugar Lenin e os bolcheviques ocuparam, no início do século passado, e que se pode dizer ter sido a do militante de partido”.


Este livro é testemunho do não conformismo de Paulo e de Badiou, que mostra a mesma paixão política que vê nas epístolas do primeiro e para quem “o pensamento não espera e jamais esgota sua reserva de força, a não ser para quem sucumbe no profundo desejo de conformidade, que é a via da morte”.


São Paulo, publicado no âmbito do Ano da França no Brasil, contou com o apoio do Ministério francês das Relações Exteriores e Européias.


O livro conta ainda com um posfácio de Vladimir Safatle, no qual o professor da USP avalia a produção intelectual e trajetória de Badiou. Em suas palavras, "podemos dizer que Badiou parte do princípio de que a política não pode ser guiada por exigência de realização de ideais normativos de justiça e consenso que já estariam atualmente presentes em alguma dimensão da vida social. Pois isso nos impediria de desenvolver uma crítica mais profunda capaz de questionar a gênese de nossos próprios ideais e valores".


Sobre o autor

Alain Badiou nasceu em 1937 na cidade marroquina de Rabat. Autor de vasta e qualificada produção intelectual, é tido como um dos principais filósofos franceses da atualidade. Leciona filosofia na Universidade de Paris-VII Vincennes e no Collège International de Philosophie, além de ser professor emérito da École Normale Supérieure de Paris. Sua trajetória também está marcada pelo ativismo político. Filho de um professor de matemática que se destacou na Resistência Francesa contra a ocupação nazista – seu pai foi prefeito de Tolouse entre 1944 e 1958 –, Badiou participou da movimentação social que culminou no maio de 1968. Foi membro-fundador do Parti Socialiste Unifié (PSU) e um dos dirigentes da L`Union des Communistes de France Marxiste-Léniniste (UCF-ML), grupo maoísta francês. Desde o fim da década de 1980, tem participado de L’Organisation Politique. Além das reflexões filosóficas, Badiou escreveu ensaios políticos, romances e atuou como dramaturgo, tendo trabalhado com diretores como Antoine Vitez e Christian Schiaretti.

Trecho da obra

Jamais liguei Paulo à religião. Não foi desse ponto de vista, nem para testemunhar uma fé qualquer, nem sequer uma antifé, que me interessei por ele há muito tempo. Nem tampouco para dizer a verdade – mas a emoção foi menor – que me apropriei de Pascal, de Kierkegaard ou de Claudel, a partir do que havia de explícito em suas pregações cristãs. De qualquer maneira, o caldeirão em que se cozinha o que será uma obra de arte e de pensamento é cheio de impurezas inomináveis até a borda; contém obsessões, crenças, labirintos infantis, perversões diversas, lembranças impartilháveis, leituras de fragmentos das mais variadas origens, um grande número de besteiras e quimeras. Entrar nessa alquimia não leva a muita coisa. Para mim, Paulo é um pensador‑poeta do acontecimento e, ao mesmo tempo, aquele que pratica e enuncia atos constantes característicos do que se pode denominar a figura militante. Ele faz surgir a conexão, integralmente humana e cujo destino me fascina, entre a ideia geral de uma ruptura, de uma virada, e a de um pensamento prático, que é a materialidade subjetiva dessa ruptura.


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