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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Às vésperas da Páscoa, pão desperta a reflexão sobre tradições judaicas em Israel

Ethan Bronner
Em Jerusalém

O debate público em Israel nesta semana passou do Hamas para o "hametz". Mas permaneceu igualmente acalorado.

O hametz é o pão e outros produtos fermentados que muitos judeus não comem nos oito dias do Pessach, a Páscoa judaica, que começa na noite de sábado. A Bíblia diz que quando Deus libertou os judeus da escravidão no Egito, eles partiram com tamanha pressa que não houve tempo para o pão crescer, e para marcar a circunstância, comer pão fermentado durante o feriado é proibido.

O foco do debate aqui é uma decisão de um juiz municipal de Jerusalém de derrubar as condenações a quatro lojas e restaurantes por terem vendido pizza e pãezinhos durante o feriado no ano passado, apesar de uma lei que muitos consideravam proibir as empresas de fazê-lo. O juiz disse que a lei proíbe apenas a exposição pública de hametz, não sua venda dentro das lojas.

Apesar da maioria dos debates sobre o papel público meticulosamente negociado da religião em Israel se enquadrar nas linhas previsíveis de religiosos praticantes contra seculares, esta discussão tem sido diferente. E expõe a ansiedade palpável em torno da necessidade de definir e defender a natureza judaica do Estado, à medida que o 60º aniversário de Israel se aproxima no próximo mês.

Em artigos de opinião e conversas informais, alguns israelenses não-religiosos disseram gostar da ausência de hametz por oito dias e que era um símbolo pequeno mas potente de uma identidade coletiva única.

A defensora mais proeminente desta posição foi a ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, uma mulher secular, que escreveu no jornal "Maariv" que lamentava a decisão do juiz.

"Aparentemente, a proibição à exibição pública ou venda de pão na Pessach é uma questão pequena e marginal, mas acredito que não é o caso", ela escreveu. "No meu entender, esta proibição faz parte da questão substantiva de como desejamos caracterizar nossa identidade no lar nacional do povo judeu."

Muitos concordaram com ela e argumentaram, como ela, que desde que os negociadores palestinos com Israel e aqueles que os apóiam rejeitaram definir Israel como um "Estado judeu", era mais importante do que nunca fazê-lo.

"Quanto mais permitirmos nos afastar da tradição judaica, mais fácil será para aqueles que rejeitam nossa legitimidade como Estado judeu", disse Sharona Mazalian, que vive fora de Tel Aviv, trabalha para um legislador conservador e secular e deseja o hametz proibido durante o Pessach. "Nós nos consideramos um Estado judeu, democrático. Mas quanto menos judaicos formos, mais fácil será para os outros dizerem: 'Por que não ser apenas um Estado democrático para judeus e árabes viverem juntos?'"

Ammon Rubinstein, um ex-ministro secular e liberal da educação e ex-reitor da escola de direito da Universidade de Tel Aviv, disse que o juiz em Jerusalém estava certo em sua decisão, porque a intenção da lei era evitar ferir a sensibilidade religiosa ao exibir publicamente o hametz, não impedir totalmente sua venda.

Mas ele notou: "Há este sentimento no momento de que temos de alguma forma de permanecermos judaicos. Tzipi Livni representa isso -uma secular desejando por um ambiente judeu".

Isto parece particularmente verdadeiro na Pessach. Em recentes pesquisas, entre 65% e 70% dos judeus israelenses dizem que evitarão hametz na próxima semana, apesar da maioria não ser praticante religiosa.

Há algo particularmente significativo em relação à Pessach em Israel. Como Liat Collins, uma colunista, escreveu no "The Jerusalem Post", a Pessach, o festival da liberdade, "representa tudo de que nos orgulhamos: sobrevivência contras as chances, identidade nacional e um retorno à Terra Prometida. Todas as coisas pelas quais somos admirados -e vilipendiados- por milhares de anos".

Mas assim como muitos judeus israelenses buscam um sentimento judeu na vida pública de Israel -eles gostam da forma como o país desacelera na tarde de sexta-feira para o sabá, a forma como segue o calendário judaico -eles ressentem o fato de como os partidos religiosos são aqueles que estabelecem a agenda.

Após o juiz ter proferido sua decisão, vários partidos ortodoxos a declararam uma calamidade e prometeram aprovar uma lei proibindo toda a venda de hametz durante a Pessach. Quando o Gabinete se recusou a tratar do assunto, o Partido Shas ameaçou uma crise governamental mas recuou, dizendo que levaria seu caso ao Parlamento.

Moshe Halbertal, um professor de filosofia judaica da Universidade Hebraica daqui, disse: "O que vejo acontecendo é um senso de busca por uma identidade judaica, o que realmente aprecio. Mas eu acho que é errado fazê-lo por meio do sistema legal".

Ele disse que seu modelo para a expressão pública judaica era a forma como Israel marcava o Yom Kippur, quando, por meio de uma convenção não escrita, ninguém dirige. "Não há lei sobre dirigir no Yom Kippur, mas todos respeitam", ele disse.

Mas Yair Sheleg, um judeu praticante que escreve para o jornal "Haaretz", apresentou o argumento oposto em uma recente coluna, apoiando a proibição da exibição e venda de hametz durante a Pessach.

Ele disse que uma sociedade deve usar suas leis em relação ao espaço público para ajudar a moldar seus valores centrais, "e neste sentido proibir a exibição pública de hametz na Pessach não difere em princípio da legislação sobre o fechamento de restaurantes e cinemas no Dia de Lembrança do Holocausto ou no Dia da Lembrança".

Sheleg notou que há alguns anos o Parlamento aprovou uma lei para destruir um monumento a Baruch Goldstein, o colono judeu nascido no Brooklyn que matou 29 muçulmanos que oravam em Hebron em 1994. Sheleg notou que ele ficava longe da vista do público e causava pouco mal evidente, mas eliminá-lo era uma expressão apropriada dos valores públicos centrais.

Nahum Barnea, um colunista do "Yediot Aharonot", disse que a disputa o fez perceber como Israel, mesmo ao se aproximar de seu 60º aniversário, "ainda está tentando se definir, algo que a maioria dos Estados não precisa fazer".

"Nós ainda estamos debatendo nossa existência, não apenas em termos de política mas em termos de ideologia", ele disse. "O que é Israel? O que é um Estado judeu? E como o hametz pode nos ajudar a encontrar a resposta?"

Tradução: George El Khouri Andolfato

Extraído de:
NYT, em 18/04/2008.

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